O evento NRF Retail’s Big Show tem estado no centro do cenário de varejo, oferecendo insights essenciais e servindo como um hub central para profissionais do setor. O primeiro dia da NRF 2025 foi muito mais do que apenas um início – foi um vislumbre do futuro do varejo, uma imersão em tendências que não apenas estão transformando o setor, mas também a forma como nos conectamos como consumidores. Estar no evento é testemunhar as grandes ideias que vão moldar o mercado global nos próximos anos. A cada palestra, fica claro que a NRF não é apenas uma feira; é o centro nervoso da inovação no varejo.
A Revolução da Inteligência Artificial: muito além da tecnologia
Se a última década foi sobre experimentação com inteligência artificial (IA), 2025 parece ser o ano da consolidação. O que ouvimos nesse primeiro dia foi um chamado à ação: não há mais espaço para IA sem propósito ou para soluções isoladas. Como destacou Mark Ibbotson, ex-EVP do Walmart e consultor da McKinsey, “o varejo está pronto para ir além do hype. O que queremos agora são aplicações que entreguem valor real: custos reduzidos, vendas maiores e experiências enriquecedoras para o cliente”.
O impacto real da IA foi evidenciado por casos concretos. Richard Plunkett, ex-diretor da Woolworths, compartilhou sua experiência em implementar IA em 1.500 lojas. Segundo ele, o maior desafio foi vencer as barreiras culturais, não tecnológicas: “A chave do sucesso foi conquistar a confiança das equipes internas. Quando os funcionários percebem que a tecnologia está ao lado deles, e não contra, a mudança acontece”. Esse estudo de caso deixou claro que a transformação digital deve começar pelas pessoas.
Dados: o ouro do varejo moderno
Outro tema que dominou as conversas foi a importância da qualidade e da governança de dados. Baltazar Hasselsteen Ozonek, VP de IA e Inovação da Pandora, foi incisivo ao afirmar: “Você pode ter a melhor tecnologia do mundo, mas sem dados bem estruturados, ela será inútil”. Ele destacou que muitas empresas ainda enfrentam dificuldades em alinhar suas bases de dados com as demandas de tecnologias como IA e aprendizado de máquina.
Velia Carboni, CIO da SharkNinja, complementou ao falar sobre o equilíbrio necessário entre ação e preparação: “Comece com casos de uso menores, valide os dados nesses projetos e escale a partir disso. Não deixe que o tamanho do desafio paralise a inovação”.
A Personalização como ponto de virada
A personalização não é mais apenas uma tendência, mas um requisito essencial para marcas que desejam capturar a atenção e a lealdade do consumidor moderno. Olivier Bron, CEO da Macy’s, descreveu como a empresa tem investido em personalização em tempo real para atender às expectativas crescentes dos clientes: “Não se trata apenas de vender produtos, mas de criar momentos únicos e memoráveis a cada interação”.
Madeline Weinrib, da Blue Mercury, trouxe um exemplo fascinante de como o setor de beleza está liderando essa transformação. Ao usar dados para construir planos personalizados para os consumidores, sua empresa conseguiu não apenas atrair novos públicos, mas também aumentar o engajamento com clientes existentes. “A personalização cria valor. É isso que fideliza e traz as pessoas de volta”, afirmou.
O poder das novas gerações e a integração física-digital
As gerações Z e Alpha foram um tema central no painel “Z to Alpha: Redefinindo o varejo para amanhã”. Com hábitos de consumo moldados pela hiperconectividade, esses consumidores estão exigindo autenticidade, propósito e experiências imersivas. Richard Johnson, CEO da Foot Locker, destacou como a empresa está transformando suas lojas físicas em espaços interativos, combinando tecnologia e comunidade local: “As lojas precisam ser mais do que lugares para vender; elas precisam ser destinos”.
Mas o evento também lembrou que essas gerações ainda valorizam o toque humano. Como Baltazar Hasselsteen Ozonek colocou, “o futuro do varejo não está em substituir as pessoas, mas em usar a tecnologia para amplificar a experiência humana”.
Estudos de caso inspiradores
O varejo físico continua a se reinventar. A Macy’s, por exemplo, demonstrou como repensar a experiência do cliente dentro das lojas, enquanto a SharkNinja mostrou como dados podem transformar a forma como consumidores descobrem novos produtos, como receitas personalizadas que ampliam o uso de eletrodomésticos do dia a dia.
Outro exemplo poderoso veio de Kevin Reddy, ex-presidente do McDonald’s, que explicou como a integração de sensores visuais e IA no drive-thru ajudou a melhorar a precisão dos pedidos e reduzir custos. “A tecnologia não é apenas sobre eficiência; é sobre confiança e conveniência”, disse.
Desafios e Riscos: entre o entusiasmo e a precaução
Apesar do otimismo, o evento também trouxe reflexões sobre os desafios à frente. O custo de implementação da IA, a fragmentação de dados e a necessidade de treinamento de equipes foram amplamente discutidos. “Estamos apenas no começo. Precisamos de uma alfabetização em IA, para que todos nas organizações entendam o que é possível e como colaborar com essas ferramentas”, enfatizou Velia Carboni.
O que ficou claro no primeiro dia da NRF 2025 é que o varejo está entrando em uma nova era – uma era em que a tecnologia não é apenas uma ferramenta, mas um habilitador de experiências humanas mais profundas e significativas. A convergência entre dados, IA e inovação no ponto de venda foi o fio condutor das discussões, mas o verdadeiro impacto será medido pela capacidade de criar conexões reais com os consumidores.
Como disse Olivier Bron: “O varejo não é só sobre vender. É sobre entender o cliente e entregar o que ele nem sabia que precisava”.Há muito ainda a explorar, mas a mensagem é clara: o futuro do varejo começa agora.